sexta-feira, 12 de outubro de 2012

POESIA = Ascenso Ferreira

ASCENSO FERREIRA
PALMARES-PE = 1895 / 1965



Carnaval No Recife


 

Meteram uma peixeira no bucho de Colombina

que a pobre, coitada, a canela esticou!

Deram um rabo-de-arraia em Arlequim,

um clister-de-sebo-quente em Pierrot!



E somente ficaram os máscaras da terra:

Parafusos, Mateus e Papanguas...

e as Bestas-Feras impertinentes,

os cabeções e as Burras-Calus...

realizando, contentes, o carnaval do Recife,

o carnaval mulato do Recife,

o carnaval melhor do mundo!



- Mulata danada, lá vem Quitandeira,

lá vem Quitandeira que tá de matá!



- Olha o passo do siricongado!

- Olha o passo da siriema!

- Olha o passo do jaburu!

- E a Nação-de-Cambinda-Velha!

- E a Nação-de-Cambinda-Nova!

- E a Nação-de-Leão-Coroado!



- Danou-se, mulata, que o queima é danado!

- Eu quero virá arcanfô!

Que imensa poesia nos blocos cantando:

"Todo mundo emprega

grande catatau,

pra ver se me pega

O teu olho mau!"



- Viva o Bloco das Flores! - Os Batutas! - Apois-Fum!

(Como é brasileira a verve desse nome, Apois-Fum)

E o Clube do Pão Duro!

(É mesmo duro de roer o pão do pobre!)



Lá vem o homem dos três cabaços na vara!

"Quem tirar a polícia prende!"

Êh garajuba!



Carnavá, meu carnavá,

tua alegria me consome...

chegô o tempo das muié largá os home!

chegô o tempo das muié largá os home!



Chegou lá nada...



Chegou foi o tempo d'elas pegarem os homens,

porque chegou o carnaval do Recife,

o carnaval mulato do Recife,

o carnaval melhor do mundo!



- Pega o pirão, esmorrecido!







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