sábado, 6 de outubro de 2012

POESIA = Artur Azevedo

ARTUR AZEVEDO(*)


A Escrava



Eu não fui criada a esmo
com quanto fosse uma escrava.
Muitas vezes Sinhazinha
junto de si me assentava,
e me ensinava leitura,
e a rabiscar me ensinava.


Era, porém, na costura
que eu mostrava mais primor,
vestidos fazia a ponto
de muita gente supor
que eram obra da madama
lá da rua do Ouvidor.


Não havia nem mucama
com tão raros predicados!
Como eu engomava as rendas,
as pregas e os apanhados,
do ferro levando o bico
aos refolhos dos babados!


Era o meu senhor tão rico,
tinha tantas relações,
que não perdia um só baile
nem outras quaisquer funções.
E todas as quartas-feiras
dava em casa reuniões.


Eram muito pagodeiros
que Sinhá, quer Sinhazinha:
de um baile mal descansavam,
outro convite lá vinha!
E quem é que as enfeitava?
a boa da mulatinha!


Que trabalho isso custava!
Porém, que satisfação
quando depois de vestí-las,
dava a última demão,
co'os alfinetes na boca,
ajoelhada no chão.



 
(*) ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO = SÃO LUÍS-MA = 1855 / 1908

Nenhum comentário: