sábado, 6 de outubro de 2012

GRACILIANO RAMOS


Graciliano Ramos nasceu em Quebrângulo, Alagoas, em 27 de outubro de 1892. Fez apenas os estudos secundários em Maceió. Após rápida passagem pelo Rio de Janeiro, fixa-se em Palmeira dos Índios, interior de Alagoas; jornalista e político, chega a exercer o cargo de prefeito da cidade.

Estréia em livro em 1933, com o romance Caetés; nessa época trabalha em Maceió, dirigindo a Imprensa Oficial e a lnstrução Pública, e trava conhecimento com José Lins do Rego, Rachel de Queiroz e Jorge Amado. Em março de 1936 é preso por atividades consideradas subversivas sem, contudo, ter sido acusado formalmente; após sofrer humilhações de toda sorte e percorrer vários presídios, é libertado em janeiro do ano seguinte. Essas experiências pessoais são retratadas no livro Memórias do cárcere.

Em 1945, com a queda da ditadura de Getúlio Vargas e a volta do país à normalidade democrática, Graciliano filia-se ao Partido Comunista Brasileiro, o qual integra até 1947, quando o partido é novamente considerado ilegal. Em 1952 viaja para os países socialistas do Leste Europeu, experiência descrita em Viagem. Falece no Rio de Janeiro, em 20 de março de 1953.

Graciliano Ramos é hoje considerado por grande parte da crítica nosso melhor romancista moderno. Além disso, é tido como o autor que levou ao limite o clima de tensão presente nas relações homem / meio natural, homem / meio social, tensão essa geradora de um conflito intenso, capaz de moldar personalidades e de transfigurar o que os homens têm de bom.

Nesse contexto violento, a morte é uma constante; é o final trágico e irreversível, decorrente de relacionamentos impraticáveis. Assim, encontramos suicídios em Caetés e São Bernardo, um assassinato em Angústia e as mortes do papagaio e da cadela Baleia em Vidas Secas.

Em seus romances, a lei maior é a da selva. Portanto, a luta pela sobrevivência parece ser o grande ponto de contato entre todos os personagens. Em consequência, uma palavra se repete em toda a obra do escritor: bicho, ou ainda, como no início de Vidas secas, viventes, aqueles que só têm uma coisa a defender - a vida:

"Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado, morrera na areia do rio, onde haviam descansado, à beira de uma poça: a fome apertara demais os retirantes e por ali não existia sinal de comida. Baleia jantara os pés, a cabeça, os ossos do amigo, e não guardava lembrança disto."

As condições subumanas nivelam animais e pessoas. Pensemos um pouco nessa curiosa "família": dois humanos adultos, identificados apenas pelos nomes Fabiano e Sinhá Vitória (eles não têm sobrenome), dois humanos infantis sem nome, identificados como "o mais velho" e "o mais novo", e dois bichos - o papagaio e a cachorra Baleia -, um identificado pela espécie, outro pelo nome próprio.

O papagaio é sacrificado, devorado canibalisticamente, em nome da sobrevivência dos demais; a cadela Baleia também é sacrificada em nome da sobrevivência dos demais - doente, ela atrapalhava a caminhada da família.

A tensão permeia toda a obra de Graciliano Ramos: evolui de Caetés até Vidas secas, num crescendo que passa por São Bernardo e Angústia. Acentua-se ainda mais na passagem da ficção à realidade, atingindo o ápice no livro em que relata suas experiências na cadeia, o qual, entretanto, ultrapassa o plano pessoal para retratar o Brasil em importante momento histórico, quando a convivência homem / meio social torna-se impossível. A obra é universal se considerarmos que descreve as humilhações sofridas por todos os prisioneiros políticos na ausência de um estado de direito.





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