sábado, 29 de setembro de 2012

POESIA = Guerra Junqueiro


G U E R R A  J U N Q U E I R O
PORTUGAL - 1850 / 1923
(A Velhice do Padre Eterno)




O Batismo




 
Batizais: arrancais dum anjo um satanás.

Desinfetais Ariel banhando-o em aguarrás

De igreja e no latim que um malandro expectora.

Dizeis à noite: -- limpa a túnica da aurora,

E ao rouxinol dizeis: -- pede a bênção da c'ruja.

Dais os lírios em flor ao rol da roupa suja,

Representais a farsa estúpida e sombria

Dum cônego a lavar um astro numa pia,

Finalmente extraís da inocência o pecado,

Que é o mesmo que extrair duma rosa um cevado;

E tudo isto porquê?

-- Porque na bíblia um mono

Devora uma maçã sem licença do dono!





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