LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
PORTO ALEGRE-RS = 1936
A Verdade
O pai e os
irmãos da donzela foram atrás do assaltante e encontraram um homem dormindo no
bosque, e o mataram, mas não encontraram o anel de diamante. E a donzela disse:
- Agora me
lembro, não era um homem, eram dois.
- Então está com
o terceiro!
Pois se lembrara
que havia um terceiro assaltante. E o pai e os irmãos da donzela saíram no
encalço do terceiro assaltante, e o encontraram no bosque. Mas não o mataram,
pois estavam fartos de sangue. E trouxeram o homem para a aldeia, e o
revistaram e encontraram no seu bolso o anel de diamante da donzela, para
espanto dela.
- Foi ele que
assaltou a donzela, e arrancou o anel de seu dedo e a deixou desfalecida –
gritaram os aldeões. – Matem-no!
- Esperem! –
gritou o homem, no momento em que passavam a corda da forca pelo seu pescoço. –
Eu não roubei o anel. Foi ela que me deu!
E apontou para a
donzela, diante do escândalo de todos.
O homem contou
que estava sentado à beira do riacho, pescando, quando a donzela se aproximou
dele e pediu um beijo. Ele deu o beijo. Depois a donzela tirara a roupa e
pedira que ele a possuísse, pois queria saber o que era o amor. Mas como era um
homem honrado, ele resistira, e dissera que a donzela devia ter paciência, pois
conheceria o amor do marido no seu leito de núpcias. Então a donzela lhe
oferecera o anel, dizendo “Já que meus encantos não o seduzem, este anel
comprará o seu amor”. E ele sucumbira, pois era pobre, e a necessidade é o
algoz da honra.
Todos se viraram
contra a donzela e gritaram: “Rameira! Impura! Diaba!” e exigiram seu
sacrifício. E o próprio pai da donzela passou a forca para o seu pescoço.
Antes de morrer,
a donzela disse para o pescador:
- A sua mentira
era maior que a minha. Eles mataram pela minha mentira e vão matar pela sua.
Onde está, afinal, a verdade?
O pescador deu
de ombros e disse:
- A verdade é
que eu achei o anel na barriga de um peixe. Mas quem acreditaria nisso? O
pessoal quer violência e sexo, não histórias de pescador.
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