sábado, 18 de agosto de 2012

CONTO = Humberto de Campos


HUMBERTO DE CAMPOS
MIRITIBA-MA  =  1886 = 1934


A Galinha



A maior tristeza que Dona Hortência levaria deste mundo, seria a de morrer sem acalentar um netinho. Mãe de uma filha única, tratou, logo, de casá-la, quando a menina não tinha, ainda, dezesseis anos. E como sucede sempre a toda mãe que se apressa, casou-a mal, de modo a ter como genro o Eusébio Duarte, "almofadinha" sem reputação, sem dinheiro e sem saúde, para quem o casamento foi mais um encosto do que, mesmo, um caso de coração.
Casada a menina, a pobre senhora declarou, após o jantar, na presença da filha e de alguns convidados:
- Eu tenho aí no quintal uma galinha carijó, que é, mesmo, uma beleza; mas, essa, eu só a mato no dia em que tiver certeza de que meu primeiro neto já está em caminho para este mundo!
A noite de núpcias da filha foi para Dona Hortência o que é, sempre, para as mães amorosas: um tormento. Coração alarmado, ouvido à escuta, olhos escancarados na treva, não dormiu um instante. Manhãzinha, levantou-se, e, antes, mesmo, de preparar-se para descer, foi bater à porta do quarto dos noivos.
- Mariazinha? - chamou, - Mariazinha?
- Que é, mamãe? - respondeu, de dentro, estranhando, a voz da filha.
E a velha, muito terna, muito branda, muito doce:
- Posso matar a galinha?


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