HUMBERTO DE CAMPOS
MIRITIBA-MA = 1886
= 1934
A Galinha
A maior
tristeza que Dona Hortência levaria deste mundo, seria a de morrer sem
acalentar um netinho. Mãe de uma filha única, tratou, logo, de casá-la, quando
a menina não tinha, ainda, dezesseis anos. E como sucede sempre a toda mãe que
se apressa, casou-a mal, de modo a ter como genro o Eusébio Duarte,
"almofadinha" sem reputação, sem dinheiro e sem saúde, para quem o
casamento foi mais um encosto do que, mesmo, um caso de coração.
Casada a
menina, a pobre senhora declarou, após o jantar, na presença da filha e de
alguns convidados:
- Eu tenho
aí no quintal uma galinha carijó, que é, mesmo, uma beleza; mas, essa, eu só a
mato no dia em que tiver certeza de que meu primeiro neto já está em caminho
para este mundo!
A noite de
núpcias da filha foi para Dona Hortência o que é, sempre, para as mães
amorosas: um tormento. Coração alarmado, ouvido à escuta, olhos escancarados na
treva, não dormiu um instante. Manhãzinha, levantou-se, e, antes, mesmo, de
preparar-se para descer, foi bater à porta do quarto dos noivos.
-
Mariazinha? - chamou, - Mariazinha?
- Que é,
mamãe? - respondeu, de dentro, estranhando, a voz da filha.
E a velha,
muito terna, muito branda, muito doce:
- Posso
matar a galinha?
Nenhum comentário:
Postar um comentário