domingo, 31 de julho de 2016
PRAIAS DO NORDESTE
Ponta Negra-RN
Calheta-PE
Gaibu-PE
Japaratinga-AL
Mutá-BA
Praia do Forte-BA
Boa Viagem = Recife-PE
Enseada dos Corais-PE
Patacho-AL
Praia do Espelho-BA
Praia do Gunga-AL
Praia do Paiva-PE
Tamandaré-PE
Canoa Quebrada-CE
Pedra de Xaréu-PE
Praia dos Coqueiros-PI
Praia dos Coqueiros-PI
Cotovelo-RN
Praia do Saco-SE
Praia de Itapoama-PE
Pirangi do Sul-RN
Pitimbu-PB
Ponta Verde-AL
Praia de Patacho-AL
CONTO = Artur de Azevedo
Às Escuras
Havia baile naquela noite em casa do Cachapão, o
famoso mestre de dança, que alugara um belo sobrado na Rua Formosa, onde todos
os meses oferecia uma partida aos seus discípulos, sob condição de entrar cada
um com dez mil-réis.
D. Maricota e sua sobrinha, a Alice, eram
infalíveis nesses bailes do Cachapão.
D. Maricota era a velha mais ridícula daquela
cidadezinha da província; muito asneirona, mas metida a literata, sexagenária,
mas pintando os cabelos a cosmético preto, e dizendo a toda a gente contar apenas
trinta e cinco primaveras - feia de meter medo e tendo-se em conta de bonita,
era D. Maricota o divertimento da rapaziada.
Em compensação, a sobrinha, a Alice, era linda como
os amores e muito mais criteriosa que a tia.
O Lírio, moço da moda, que fazia sempre um
extraordinário sucesso nos bailes de Cachapão, namorava a Alice, e no baile
anterior lhe havia pedido... um beijo.
- Um beijo?! Você está doido, seu Lírio?! Onde?
Como? Quando?
- Ora! Assina você queira...
- Eu não dou; furte-o você se quiser ou se puder.
Isto dizia ela porque bem sabia que as salas estavam sempre cheias de gente, e
a ocasião não poderia fazer o ladrão.
Demais, D. Maricota, a velha desfrutável, que
andava um tanto apaixonada pelo moço, que aliás podia ser seu neto, tinha
ciúmes e não os perdia de vista.
Mas o Lírio, que era fértil em idéias
extraordinárias, combinou com um camarada, o Galvão, que este entrasse no
corredor do sobrado às 10 horas em ponto, e fechasse o registro do gás.
Se o Lírio bem o disse, melhor o fez o Galvão; mas
ao namorado saiu-lhe o trunfo às avessas, como vão ver.
Faltavam dois ou três minutos para as 10 horas,
quando ele se aproximou de Alice e murmurou-lhe ao ouvido:
- Aquela autorização está de pé?
- Que autorização?
- Posso furtar o beijo?
- Quando quiser.
- Bom; vamos dançar esta quadrilha.
Mas a velha D. Maricota levantou-se prontamente da
cadeira em que estava sentada e enfiou o braço no braço do moço, dizendo:
Perdão, seu Lírio! Esta quadrilha é minha! O senhor
já dançou uma quadrilha e uma valsa com Alice!
E arrastou o Lírio para o meio da sala.
De repente, ficou tudo às escuras.
Passado um momento de pasmo, D. Maricota agarrou-se
ao pescoço do Lírio e encheu-o de beijos, dizendo muito baixinho:
- Ingrato! Ingrato! Foi o meu bom amigo que apagou
as luzes!
E aqui está como ao Lírio saiu o trunfo às avessas.
ARTUR DE AZEVEDO
SÃO LUÍS-MA, 1855-1908
POESIA = Manuel Bandeira
A doce
tarde morre. E tão mansa
Ela
esmorece,
Tão
lentamente no céu de prece,
Que assim
parece, toda repouso,
Como um suspiro
de extinto gozo
De uma
profunda, longa esperança
Que,
enfim cumprida, morre, descansa...
E
enquanto a mansa tarde agoniza,
Por entre
a névoa fria do mar
Toda a
minhalma foge na brisa:
Tenho
vontade de me matar!
Oh, ter
vontade de se matar...
Bem sei
é cousa que não se diz.
Que mais
a vida me pode dar?
Sou tão
feliz!
- Vem,
noite mansa...
MANUEL BANDEIRA
RECIFE-PE = 1886-1968
CONTO = Stanislaw Ponte Preta
Inferno Nacional
A
historinha abaixo transcrita surgiu no folclore de Belo Horizonte e foi contada
lá, numa versão política. Não é o nosso caso. Vai contada aqui no seu mais puro
estilo folclórico, sem maiores rodeios.
Diz que
uma vez um camarada que abotoou o paletó. Em vida o falecido foi muito dado à
falcatrua, chegou a ser candidato a vereador pelo PTB, foi diretor de instituto
de previdência, foi amigo do Tenório, enfim… ao morrer nem conversou: foi
direto ao Inferno. Em chegando lá, pediu audiência a Satanás e perguntou:
– Qual é o
lance aqui? Satanás explicou que o inferno estava dividido em diversos
departamentos, cada um administrado por um país, mas o falecido não precisava
ficar no departamento administrado pelo seu país de origem. Podia ficar no
departamento do país quer escolhesse. Ele agradeceu muito e disse a Satanás que
ia dar uma voltinha para escolher o seu departamento.
Está claro
que saiu do gabinete do Diabo e foi logo para o departamento dos Estados
Unidos, achando que lá devia ser mais organizado o inferninho que lhe caberia
para toda a eternidade. Entrou no departamentodos Estados Unidos e perguntou
como era o regime ali.
–
Quinhentas chibatadas pela manhã, depois passar duas horas num forno de
duzentos graus. Na parte da tarde: ficar numa geladeira de cem graus abaixo de
zero até as três horas, e voltar ao forno de duzentos graus.
O falecido
ficou besta e tratou de cair fora, em busca de um departamento menos rigoroso.
Esteve no da Rússia, no do Japão, no da França, mas era tudo a mesma coisa. Foi
aí que lhe informaram que tudo era igual: a divisão em departamento era apenas
para facilitar o serviço no Inferno, mas em todo lugar o regime era o mesmo:
quinhentas chibatadas pela manhã, forno de duzentos graus durante o dia e
geladeira de cem graus abaixo de zero, pela tarde.
O falecido
já caminhada desconsolado por uma rua infernal, quando viu um departamento
escrito na porta: Brasil. E notou que a fila à entrada era maior do que a dos
outros departamentos. Pensou com suas chaminhas: “Aqui tem peixe por debaixo do
angu”. Entrou na fila e começou a chatear o camarada da frente, perguntando por
que a fila era maior e os enfileirados menos tristes. O camarada da frente fingia
que não ouvia, mas ele tanto insistiu que o outro, com medo de chamarem
atenção, disse baixinho:
– Fica na
moita, e não espalha não. O forno daqui está quebrado e a geladeira anda meio
enguiçada. Não dá mais de trinta e cinco graus por dia.
– E as
quinhentas chibatadas? – perguntou o falecido.
– Ah… O
sujeito desse serviço vem aqui de manhã, assina o ponto e cai fora.
STANISLAW PONTE PRETA
SÉRGIO PORTO = RIO DE
JANEIRO-RJ=1923-1968
Assinar:
Postagens (Atom)