CARLOS CARVALHO
CARLOS
JOSÉ GOMES DE CARVALHO
PORTO
ALEGRE-RS = 1939-1985
Gênese
No
primeiro dia limpou a casa, caiou as paredes, pendurou as cortinas, distribuiu
os móveis, arrumou os livros, pintou o número na porta, colocou o tapete,
forrou o sofá e viu que isto era bom.
No segundo dia estendeu os fios, instalou comutadores novos e brilhantes, e ligando os comutadores viu que a luz se fazia, clara, forte, iluminando tudo, reverberando nas paredes brancas, e isto também era bom.
No
terceiro dia, construiu encanamentos, trouxe a água da vertente e, concluído o trabalho,
abriu as torneiras e a água jorrou límpida, cristalina, ainda fresca do
nascedouro, o que o fez sorrir, pensando que isto também era bom.
No quarto
dia comprou um aguário com peixinhos de cor, uma gaiola com dois canários e um
vaso com flores, que distribuiu pela casa, e vendo os peixinhos, ouvindo os
canários, sentindo o perfume das flores ficou feliz, pois que isto era bom.
No quinto
dia, banhou-se na água da vertente, barbeou-se, vestiu roupas novas, olhou-se
ao espelho e viu-se criado na casa que construíra e pensou que precisava de uma
companheira e saiu a bater de casa em casa, até que encontrou uma rapariga
modesta e simples que aceitou com ele dividir a casa, os canários, as flores, a
água e a luz, e a isto ele sorriu feliz, pois que era bom.
No sexto
dia, acordou com a companheira, desembaraçou-lhes os cabelos, deu-lhe banho,
perfumou-a, levou-a para o leito e amou-a, e deste amor nasceram muitos filhos
que se multiplicaram e encheram a casa e que o fizeram feliz, vendo que isto
era bom.
No sétimo
dia, cumprida a tarefa, reuniu a família, dividiu o pão do celeiro e o vinho da
adega, beijou um a um os filhos, sorriu para a companheira e, sem outro aviso,
deitou para descansar e nunca mais acordou. E isto também foi bom.
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