BENEDITA
DE MELO
VICÊNCIA-PE = 1906-1991
Velhice
Velhice é a borra do final da taça...
O sabor derradeiro da bebida.
Visão que, terna, a criatura abraça,
porém que sempre a encontra distraída.
Tem de tudo o que finda a eterna graça.
Por todos, com tristeza é recebida...
Qualquer fase da vida surge e passa,
sem que por isso passe-nos a vida.
Ela, não. Ela fica. É mais sincera...
É mais que o Outono e mais que a Primavera...
Para atingi-la, quanto não fazemos!
A mocidade foge e resistimos...
Mas se a velhice morre, nós morremos!...
<><><><><>
Bendita
Cegueira
Não vi ciscar a terra o pintainho,
nem vi no lago espreguiçar-se a lua.
Não vi num ramo balouçar-se o ninho,
Nem no dorso do mar vi a falua.
Não vi, em frente, o rumo ao meu caminho...
Vi ruidosa e deserta cada rua.
Não vi no Ramo balouçar-se o ninho,
Não vi o mato verde, a pedra nua.
Nem plumagem de pássaro cantor,
Bendigo o que não vi para bem meu...
Não vi o frio olhar de quem renega...
E a dor de minha mãe ao ver-me cega...
E o rosto de meu pai, quando morreu...
Nenhum comentário:
Postar um comentário