sábado, 27 de abril de 2013

POESIA = Benedita de Melo


BENEDITA DE MELO
VICÊNCIA-PE  =  1906-1991

 


Velhice

 

Velhice é a borra do final da taça...
O sabor derradeiro da bebida.
Visão que, terna, a criatura abraça,
porém que sempre a encontra distraída. 

Tem de tudo o que finda a eterna graça.
Por todos, com tristeza é recebida...
Qualquer fase da vida surge e passa,
sem que por isso passe-nos a vida. 

Ela, não. Ela fica. É mais sincera...
É mais que o Outono e mais que a Primavera...
Para atingi-la, quanto não fazemos!

 Vai-se a infância e risonhos prosseguimos...
A mocidade foge e resistimos...
Mas se a velhice morre, nós morremos!...

 
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Bendita Cegueira

 

Não vi ciscar a terra o pintainho,
nem vi no lago espreguiçar-se a lua.
Não vi num ramo balouçar-se o ninho,
Nem no dorso do mar vi a falua. 

Não vi, em frente, o rumo ao meu caminho...
Vi ruidosa e deserta cada rua.
Não vi no Ramo balouçar-se o ninho,
Não vi o mato verde, a pedra nua.

 Mas se não vi a graça de uma flor
Nem plumagem de pássaro cantor,
Bendigo o que não vi para bem meu...

Não vi o frio olhar de quem renega...
E a dor de minha mãe ao ver-me cega...
E o rosto de meu pai, quando morreu...

 

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