sábado, 8 de setembro de 2012

HUMBERTO DE CAMPOS
MIRITIBA-MA = 1886 = 1934


A Noiva Dos Regimentos



Residindo nas proximidades da Vila Militar, a Etelvina Ribeiro sonhara, desde menina, com um marido que usasse farda. Aos quatorze anos teve como namorado um sargento do 1° batalhão de engenharia, que a esqueceu quando foi transferido. Aos quinze, namorara um segundo tenente de artilharia. Aos quinze e meio, um primeiro tenente da cavalaria e, pouco, depois, um capitão da companhia de metralhadoras. Aos dezesseis, fora rebaixada, e passara, de novo, a gostar dos tenentes, representados por um grupo de obuses, e por outro, da artilharia montada. Aos dezessete anos de idade era Etelvina um verdadeiro campo de manobras, em matéria de namorado. Até um sargento aviador havia feito um "raid" sobre o seu coração experiente. E era esta a sua condição quando se apresentou, disputando-a, o tenente Filomeno Coutinho de Medeiros. Militar honesto e futuroso, que a procurava com a mais sincera idéia de casamento.

Coração apaixonado, o tenente buscava, há muito tempo, uma oportunidade para aproximar-se da menina. Acompanhava-a, seguia-a, cercava-a, mas o destino não permitia, jamais, uma troca de palavras. E foi quando, por um acaso, se viu, um dia, ao lado dela, no trem que vinha para a cidade.

- Oh, que felicidade! - exclamou, a voz trêmula. - A senhora por aqui?

Sorriso no canto da boca, a mocinha olhou-o, com garotice.

- Ah! É o senhor? - disse , como se já o conhecesse há muitos anos.

Aproveitando aquela entrada, o rapaz tomou a ofensiva, abrindo-lhe de par em par o coração. Contou-lhe a sua paixão, os seus propósitos de noivado, e a ventura que esperava da vida se ela, boa, pura, honesta como era, lhe concedesse a esperança do seu amor. Terminada aquela confissão tão sincera, tão leal, tão profunda, a menina olhou-o, de cima a baixo.

- De que arma é o senhor? - perguntou.

- Da cavalaria, - informou o tenente.

- Ah, não quero! - respondeu a pequena, peremptória.

- Usam chilenas! - acrescentou.

E como a responder ao olhar interrogativo do rapaz:

- Rasgam muito a camisa da gente!



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