sábado, 22 de junho de 2013

POESIA


P E D R O   T I E R R A
PORTO NACIONAL-TO  =  1948

 
O Capuz

 

Cá está o capuz sobre a grade.
Traz consigo uma segura
promessa de dor. Na boca
do sentinela um meio riso.
 
Cá está uma parcela da noite
cobrindo meu rosto.
A mão de meu inimigo
determina o caminho.
 
Pelos corredores aprendi
o jeito inseguro dos cegos.
As mãos tateando a parede.
Sob os pés a escada imprevista,
 
o degrau a mais, a queda,
o riso dos soldados,
o gesto perdido buscando
uma porta que não houve.
 
O passar dos dias
e as cicatrizes no corpo
ensinaram-me esse caminho.
Nos dedos guardei as arestas,
 
o ferro das portas,
o fio dos dínamos.
No dorso a marca
desses dias de sombra.
 
O capuz repete a dor
no corpo de cada combatente,
uma dor mercenária
recrutada a serviço da noite.

 

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